Vou tentar esquecer rapidamente os últimos acontecimentos deste blogue e seguir em frente com a minha vida. Foi definitivamente um post infeliz o da "Ilustração não!". Estava a tentar ser engraçado mas não resultou. Agora compreendo melhor o Marco Fortes quando aquela piada sobre "ficar na caminha" lhe saiu ao contrário. Recebi alguns mails ameaçadores por parte de ilustradores conceituados. Fiquei com medo. Por uma questão de segurança mudei de identidade no cabeçalho. Vou ficar num programa de protecção de bloguistas até as coisas acalmarem. Fui mal interpretado. Não tenho nada contra a ilustração e muito menos contra as mulheres.
Nada melhor para resfriar os ânimos do que uma caricatura de uma personalidade menos polémica. Foi publicada na edição de Agosto de 2006 na revista MAGAZINE - GRANDE INFORMAÇÃO. Também escrevi o texto que segue já de seguida. Um bocado lamechas mas com a atenuante de já ter dois anos.
Adolf Hitler
O Hitler já morreu há mais de 50 anos mas ainda hoje mexe comigo. Ainda não superei a sua morte. A sua figura e a sua personalidade marcaram-me profundamente. Não se assustem, que isto não é o discurso de um fascista melancólico! Antes pelo contrário. Ele ainda mexe comigo no mau sentido. Não superei a sua morte porque ainda hoje me mete medo. Sim! Assumo que este homem, mesmo depois de morto e enterrado, ainda me apavora. Quando procurava imagens para fazer o boneco, ia tendo sobressaltos de pânico, à medida que ia avançando com a pesquisa, com medo que as imagens ganhassem vida e que um hitlerzinho impresso se virasse contra mim aos berros e a insultar-me em alemão. O que mais me perturba, é o denominador comum em quase todas as imagens - a falta de vida do seu olhar. Falta de vida ou falta de amor, que é a mesma coisa. Para mim e para muita gente, ele representa a personificação do mal. Falar no Hitler é como falar no diabo. Mas tenho o defeito de tentar sempre ver o lado bom das pessoas, o que já me tem dado alguns dissabores na vida, e tento arranjar sempre uma explicação atenuante para justificar e perceber condutas inexplicáveis. O que se terá passado na sua vida, ou na sua infância, para se ter transformado naquele monstro? Deve ter sofrido muito de certeza, e deve ter tido muito pouca mama, colo e amor. Só consigo este distanciamento e esta leveza porque ele não me afectou pessoalmente. É um personagem de uma história antiga, de uma terra distante. Mas se fosse judeu talvez não conseguisse sequer fazer o esforço de o ver como o ser humano que era. Há muita gente que fala dele como se não tivesse nada a ver com a nossa raça. Acho que isso é um erro. Acho que nenhum de nós está livre de ficar assim. Não obrigatoriamente com aquele bigode e com aquele cabelo, mas com o mesmo ódio, a mesma prepotência e os mesmos preconceitos. Também há a tendência para centralizar a culpa num só homem. Outro erro. O Holocausto só foi possível porque muita gente o apoiou. Ainda há pouco tempo saiu um filme sobre os seus últimos dias e houve uma grande polémica e indignação pelo facto da personagem estar excessivamente humanizada. E então?! Não seria ele o mais humano de nós todos? Exageradamente e grotescamente humano? Compactando em si tudo o que há de pior no Homem?
O mais incrível de tudo é que anda para aí muita boa gente, supostamente civilizada, que admira a sua personalidade e a sua determinação. Continuam a achar que ele era um vencedor, apesar de ter destruído a Europa e de se ter suicidado em seguida. Desculpabilizam-no pelo facto de ser de direita. E lembram logo que os do outro lado tinham o Estaline, que ainda era pior. Eu não sei qual deles era o pior. Acho é que a humanidade não aprendeu a lição. Não estamos livres destes assassinos. Ou seja, não estamos livres de nós próprios. Continuamos a ter um hitlerzinho em cada esquina da nossa vida.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
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5 comentários:
"Que raio de artigo..." foi o que pensei ao iniciar a sua leitura... ou melhor, foi o que não pensei porque não o entendi de todo! Hitler, um doido varido apoiado desde sempre por outros doidos como o Churchil ou Chamberlain e milhões de outros doidos que passavam fome num país penhorado pelas ditas potenciais aliadas que exigiam indemnizações que só acabariam em meados dos anos 80!!! com um pais recortado à medida de uma França com pretenções de imperialistas com as principais zonas de produção sob sua gerência!!!com o gigante soviético como aliado de ocasião para meter as suas garras na Polónia!!! ou ainda os EUA sem grande interesse na velha Europa e a deixar rolar... Hitler é de facto um doido sem o mínimo de sanidade mas fez o que lhe deixaram ir fazendo e depois... depois perdeu a guerra e os maus são sempre os que perdem... "Não é verdade Mr. E"???
O que eu adorei mesmo foi o disfarce do bonequinho do autor! Muito bom!!!
Quanto ao Hitler, estamos conversados!
Quanto à (pretensa) piada de mau gosto, eu percebi-a perfeitamente e notei-lhe traços de fina ironia.
Mas também só eu é que percebi a ironia das palavras da Ferreira Leite quanto à suspensão da democracia...
Irónicos incompetentes deste mundo, vinde até mim!
:)
Gde abraço,
Máscara
Que homem tão proteico! Afinal já não bate nos ilustradores. Afinal reconhece os erros e as argoladas!E até se redime com o Adolfinho, mostrando que o odeia portanto que não pode ser má rês. Bem diz o povo que não há rapazes maus
tem cuidado, mais vale seres ameaçado por ilustradoras do que por membros da extrema-direita :)
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