terça-feira, 28 de abril de 2009

Liberdade é um Risco

Este domingo a FECO - Associação de Cartoonistas, da qual faço parte, e a Amnistia Internacional vão tertúliar, na Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro, sobre o tema Liberdade de Imprensa.
Aproveita-se também a ocasião para os membros da FECO se encontrarem fisicamente, uma vez que muitos só se conhecem virtualmente através da internet.

Vai ser uma coisa informal, uma troca de ideias sobre estes assuntos da liberdade de expressão, com música do Manuel Freire como aperitivo e com uma apresentação a cargo do Osvaldo Macedo de Sousa (Humorgrafe) com exemplos de casos reais de censura que infelizmente ainda acontecem hoje em dia.

No mesmo espaço vai estar patente uma exposição com trabalhos de cartoonistas do mundo inteiro (o meu incluído. Passou no juri, uff!) representando vários pontos de vista sobre esta matéria.

Faço um apelo a todos os interessados... apareçam porque vai ser porreiro pá! A todos os cartoonistas que não sejam membros da FECO, não se acanhem e apareçam também para que a conversa seja o mais porreira possível, pá! Ainda sonho um dia ver todos os cartoonistas de Portugal (meia-dúzia) a saltitarem de nenúfar em nenúfar de mãos dadas. Antes disso resolve-se o problema da Faixa de Gaza.

A ideia do cartaz tive a meias com o Carlos Laranjeira durante a nossa estadia na Polónia. O desenho final é do Carlos. O grafismo do cartaz e do catálogo são meus.

Uma palavra de agradecimento à Amnistia Internacional que suportou a maior parte das despesas deste evento. Espero que esta parceria perdure para além da "Liberdade é um risco!"

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Pinto da Costa

Este boneco e o texto que segue de seguida já têm quase 3 anos mas espantosamente está tudo actual. O Pinto da Costa está aí para as curvas. É uma figura estranha que me deixa com "mix feelings", não digo amor/ódio... talvez raiva/ódio, mas lá no fundo, bem no fundo tenho uma certa admiração por este homem. É o mesmo tipo de sentimento que tenho pelo Tony Soprano. É das poucas personalidades que caricaturei mais do que uma vez. Esta foi a primeira. Aqui vai também o esboço.
Pinto da Costa

O homem do momento, o homem de quem se fala. Há muito tempo, tempo de mais para os adeptos não portistas, que o Pinto da Costa é o homem do momento e o homem de quem se fala. Já não há pachorra!
Está para o futebol como o Mário Soares está para a política e está para o FC do Porto como o Cunhal esteve para o Partido Comunista. O seu mandato é interminável. É o Fidel Castro cá do sítio, mas ao contrário deste último está pronto para as curvas, firme e hirto que nem uma rocha. E quanto mais lhe batem e lhe atiram pedras mais força e “super- poderes” parece ter.
Já ganhou tudo o que havia para ganhar, várias vezes. Já fez gato sapato de não sei quantos presidentes do Sporting e do Benfica. Já proporcionou férias no Brasil a não sei quantos árbitros. Já me deu tantos desgostos desportivos na vida que me transformaram num adepto pessimista, maldizente e macambúzio.
Assisti a muitos jogos de futebol de inqualificável aldrabice. Ver um jogo da nossa liga é como assitir a um combate de “wrestling”. Está tudo combinado e sabemos que no fim ganha o FC Porto. A liga Albanesa deve ter mais interesse.
Estas lamentações são típicas de um adepto do Sul, frustrado, invejoso e sedento de vitórias. Se fosse um homem do Norte, de barriga cheia, a conversa seria outra.
Com ou sem apito dourado, o mérito dos resultados desportivos do clube das Antas vai inteiramente para Jorge Nuno Pinto da Costa. Deviam fazer-lhe uma estátua como o Benfica fez com o Eusébio. Este homem não é do Norte, é de outro planeta. Antes dele aparecer o FC do Porto andava a mendigar. Não ganhava nada. Se tivesse calhado ser presidente do Gil Vicente, a história das últimas décadas do futebol português teria sido outra. Uma coisa é certa, o clube de Barcelos não teria descido de divisão à conta do Mateus.
Há que reconhecer o seu valor. É um adversário temível que dá a cara, a pele e o couro cabeludo pelo seu clube do coração. Joga ao ataque com um discurso bairrista, sarcástico e provocador. Ninguém o consegue dobrar. Muitos jornalistas tentaram em vão encostá-lo à parede. São sempre vítimas do sua ironia trituradora. Só alguém que não bata bem da cabeça é que daria o título “Largos Dias têm Cem Anos” ao seu livro autobiográfico. Por falar em livros não podia deixar passar o “Eu Carolina” sem um comentário. Foi um acto reles, medonho, inqualificável. Por mais revelador que seja o conteúdo, a intimidade é sagrada. Diz tudo sobre a pessoa que o pratica. E diz tudo sobre um país o facto desta bosta de livro ser o número um nos tops de vendas. Estou 100% solidário com o Pinto da Costa nesta questão. E também estou 100% solidário com os seus problemas de flatulência. Pois qualquer homem que se preza manda as suas bombas de vez em quando.
Acredito que um homem é inocente até ser provada a sua culpa. Mas há muito fumo à volta de Pinto da Costa que tem de ser investigado. Temos de acreditar na justiça! (Esta foi a melhor piada de todas). Justiça… Ah, Ah, Ah!

segunda-feira, 20 de abril de 2009

EcoCartoon

Resolvi participar num concurso além fronteiras, mais precisamente no 2º Salão Internacional Pátio Brasil de Humor sobre o Meio Ambiente que tem como tema a “poluição urbana”. Uma mostra que será realizada com os trabalhos selecionados por um "juri isento" e visitada por 50 mil visitantes/dia no Pátio Brasil Shopping em Brasília.

A comunidade de cartonistas do Brasil é muito simpática, bastante diferente da portuguesa, aparecem aqui pelo blog com mensagens de incentivo, mandam mails com sugestões de concursos como foi este o caso, dão dicas, convidam para tomar choupinho à beira mar, etc. São muito acessíveis, facilmente se estabelece contacto, já falo no messenger com alguns, têm um excelente sentido de humor e tecnicamente são do melhor que há no mundo!

Por tudo isto e numa de retribuir tanta gentileza resolvi tentar a minha sorte nestas novas paragens com estes 2 bonecos. O tema “poluição urbana” é muito importante e o primeiro cartoon dá destaque ao principal responsável pelo estado lastimável em que se encontra o planeta. Sobre isso não há dúvidas, o homem é o único culpado. A nossa tola é que está suja e poluída!
Este segundo cartoon é menos imediato, acho eu. Pelo menos um amigo meu não percebeu. Acho que não se devem explicar os cartoons mas já agora explico as minhas intenções. Além de falar da poluição e do excesso de lixo também dou um toque à porcaria que se vê nos museus de arte. Hoje em dia vale tudo, não há qualquer tipo de critério. Esta exposição com o lixo é tão legítima como as outras.

A minha única dúvida é se os trabalhos chegaram. Mandei através da internet pelo site da organização, num sistema próprio de envio bastante simples!! Mas ainda não tive a confirmação, podem ter morrido a meio do Atlântico. Aguardo notícias!

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Juri

A FECO - Associação de Cartoonistas, da qual faço parte, e a Amnistia Internacional estão a organizar um programa para comemorar o Dia da Liberdade de Imprensa! Vai ser no dia 3 de Maio, em princípio na Casa do Artista (a confirmar). Vai haver uma tertúlia para se debaterem estas temáticas da liberdade de expressão, uma exposição, um catálogo e talvez caricatura ao vivo para animar a festa. O slogan do evento “Liberdade é um risco” foi engendrado e muito bem, pelo Manuel Freire (esse mesmo da Pedra Filosofal, também membro da FECO).

Fiz este boneco para o acontecimento baseado no tema “liberdade de imprensa” apesar de ter mais a ver com a “liberdade doméstica”. O lápis azul faz a ligação à imprensa. Tudo isto é muito bonito mas para este boneco ver a luz do dia e estar patente no catálogo e na exposição terá de passar pela “censura” do juri.

Ora bem sobre os juris dos concursos de cartoons em que tenho participado… de uma maneira geral… na maior parte dos casos… como é que eu hei-de pôr isto de uma maneira objectiva… SÃO ABAIXO DE CÃO!!! São piores que os porteiros de discotecas, que os árbitros de futebol, que os polícias de trânsito… estão no fim da cadeia alimentar da minha consideração.

Há juris que deviam ser apedrejados, vergastados, torturados, fuzilados, cortados aos bocados e distribuídos em postas pelos crocodilos. Com grande pena minha dos animais que tiverem de ingerir carne tão rija e sensaborona.

Estas divagações a quente em relação aos juris… e para não ser enigmático à Octávio Machado… há que dizer os bois pelos nomes… devem-se ao facto do desenho que enviei para o World Press Cartoon (Obama) não ter sido contemplado nem para o catálogo nem para a exposição desse grande evento.

Em vez de incentivarem o produto nacional, preferem gastar o dinheiro dos contribuintes nos bonecos dos Egípcios, Fenícios ou Cartagineses.

Ele há cá cada lobby… vou-te contar!

terça-feira, 7 de abril de 2009

A Crise

A crise chega a todos e nem a literatura infantil se safou. Houve rescisões de contratos em série nalgumas das histórias mais famosas da nossa infância. Foram momentos dramáticos vividos por estes personagens que trabalhavam juntos há séculos. O anão que foi despedido está inconsolável.

Fiz este cartoon para a edição deste ano do Porto Cartoon 2009 que tem como tema “As Crises”. É a primeira vez que participo neste Festival. O prémio é aliciante, metade em dinheiro, metade em garrafas de Vinho do Porto. Deve ir parar às mãos de um enteado qualquer da organização.

Em relação a esta crise não sei o que dizer. Parece que é pior do que as anteriores. É indiferente para Portugal, estamos em crise desde 1143. Só sei que os restaurantes continuam cheios, os centros comerciais a abarrotar e o cinema, o teatro e a ópera sempre lotados. Mas estamos em crise.

Falta-me a parte do cérebro com o departamento da economia. Não consigo perceber absolutamente nada do assunto nem que frite os poucos neurónios que me restam. Nem com um batalhão de economistas à minha volta cheios de gráficos e explicações eu ia lá. Mais facilmente me entenderia com um chinês do que com um economista a falar de Spreads, Euribors, Hedge Funds, Defaults, Subprimes e afins. É equivalente ao discurso de um técnico informático a explicar o que se passa com o computador.

Uma coisa é certa, esta crise tem as suas vantagens. Este tema é um óptimo desbloqueador de conversas. Nem sei do que é que as pessoas conversariam se não fosse a crise. Foi um óptimo motivo para me aproximar de muitas pessoas com quem de outra maneira não teria tema de conversa. A crise abriu-me imensas portas para novas relações.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

António de Oliveira Salazar

O Ser Humano, como se sabe, não prima pela perfeição. É um produto defeituoso que veio ao mundo cheio de problemas por resolver. É uma criatura incompleta altamente vulnerável, é uma obra inacabada… enfim já perceberam.

Uma das avarias mais evidentes no indivíduo é a questão da memória. Rapidamente nos esquecemos das desgraças que nos aconteceram. Pior do que isso, adulteramos o passado com paninhos quentes e transformamos a desventura numa história mais decorosa.

Um bom exemplo de que o chip da memória está danificado é o fenómeno Salazar. De repente transformou-se numa figura simpática de quem toda a gente quer ser amiga. Ganhou o concurso do “Melhor Português de Todos os Tempos”, escrevem-se livros sobre ele como nunca (Enquanto Dormia, os Amores de Salazar, As Férias de Salazar, As Comidas Preferidas de Salazar, A Lingerie predilecta de Salazar, etc.), aparece em séries de televisão convertido em garanhão (por amor de Deus!) e até tem página no Facebook. Só faltam as t-shirts tipo Che Guevara para ser um icone pop à escala mundial!

Este boneco saiu em 2007 na já extinta Magazine – Grande Informação juntamente com o texto que segue de seguida.

Salazar

Ai Salazar... Salazar! Faz bem repetir este nome. Ajuda a ultrapassar o trauma. Já passaram mais de trinta anos e ainda há muita gente que acorda a meio da noite, a berrar: “Não! Salazar! Nãããããão! Conseguiremos algum dia livrar-nos deste fantasma?
Ai Salazar... Salazar! Mais vale parar com esta brincadeira antes que algum ex-PIDE se lembre de me cortar o pio.
Como é que este apelido, tão escasso na lista telefónica de Lisboa, ainda perturba tanta gente? Como é que este nome de ditador Sul Americano, ainda se tem de pronunciar baixinho? Apetece dizer calma! Morreu há muito tempo, já não vai fazer mal a ninguém. Mas este espectro que ainda nos afecta a todos deve-se ao facto de Salazar ter sido um pai para nós durante quarenta anos. Um pai à moda antiga, em que os filhos se tinham que vergar e beijar a mão. E como em todas as relações de filiação haviam os filhos cumpridores, bajuladores e preferidos, que dispunham de todas as regalias e os filhos rebeldes que eram desprezados, encarcerados, torturados e inclusivamente mortos.
Este parentesco até começou muito bem. Ao princípio Salazar era o menino bonito do Vaticano e punha em prática a célebre máxima “Deus, Pátria e Família”. Estava genuínamente convencido saber o que era melhor para os seus fifis. Pôs o país na ordem, era admirado e respeitado. Se tivesse democratizado o regime na altura teria ganho as eleições nas calmas. Mas mesmo em ditadura, manteve-se anos e anos no poder com o consentimento da população. O problema foi não ter conseguido acompanhar os sinais dos tempos. O Mundo estava em mudança e este “brilhante” estadista não deu por isso. Aliás deu por isso, que de parvo não tinha nada, mas preferiu trancar o país a sete chaves. Ainda hoje estamos a pagar essa factura.
Goste-se ou não do Salazar, temos de admitir que foi uma figura marcante. A verdade é que nenhum ser humano o derrubou. Esse papel coube a uma cadeira. E nem depois de se ter estatelado no chão tiveram coragem de lhe dizer que já não governava. Ainda hoje está muito presente na nossa vida. Basta-nos ir a uma repartição de finanças para sentirmos na pele a sua herança. A mesquinhez, o derrotismo, a nostalgia e o fatalismo que caracterizam o nosso povo também fazem parte do seu legado. Não nos livramos dele assim tão facilmente. É preciso mais tempo. O tempo cura tudo e esse mesmo tempo joga a favor de Salazar.
A minha teoria é que todos estamos cheios de saudades dele. Os de direita por nostalgia dos bons velhos tempos e os de esquerda por falta de um bode expiatório à altura.

Se estivéssemos no tempo do Estado Novo este texto seria obviamente censurado. Não tanto pela mensagem mas principalmente pela fraca qualidade literária. Nem tudo era mau naquele tempo.