quarta-feira, 27 de maio de 2009

Caçatoons

De volta ao passado! Já tinha referido que este blog é em flash back, tipo pingue-pongue com viagens ao passado e com regressos abruptos ao presente.
Tudo o que diga respeito a bonecada, coisas que tenha feito como é óbvio, e que vá fazendo, vou pôr neste blog. Quando queimar todos os cartuchos... acabou-se. Por falar em cartuchos (não confundir com cartuxos que esses são monges) passo a explicar estes caçatoons:

Estes cartoons sobre caça foram os primeiros que publiquei na vida. Tinha feito uns desenhos humorísticos sobre caça para um folheto promocional de uma empresa desta área que foi distribuído pela comunidade de caçadores de Portugal.

Um dos caçadores que viu o folheto foi o director da Calibre 12. Gostou dos bonecos e contactou-me para colaborar na sua revista. Como este país é um penico, descobri que era grande amigo do filho dele que por sinal paginava a revista. Senti-me em casa.

Tive liberdade para fazer o quisesse. Tive o cuidado de não ofender a classe de caçadores. Não convém ofender quem costuma andar com uma caçadeira debaixo do braço.

Usei um humor muito suave, muito inocente, muito naif, muito parecido comigo. Não convinha mesmo ofender os caçadores. Tive de tratar o assunto com pinças.

Apesar de já terem uns aninhos, foram feitos em 2001, aguentaram bem a passagem do tempo, souberam envelhecer. Trabalhos que fiz muito depois destes cartoons estão muito menos "apresentáveis" e nem são dignos de aparecer aqui no blog, como o já referido Bob Dylan no último post.

E ao sétimo cartoon...Puf! Acabou. A revista tinha algumas dificuldades financeiras e um cartoonista era um luxo dispensável.
Gostei muito da breve colaboração e fui muito bem tratado por todos os caçadores em especial pelo director da revista. E não estou a dizer isto por medo da caçadeira debaixo do braço.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Bob Dylan

Mais um boneco que foi publicado na já extinta MAGAZINE - Grande Informação. Não foi exactamente este Bob Dylan que é uma versão melhorada do original que saiu na altura. O outro não passou na inspecção deste blog. Censurei-o. Foi dado como inapto. Aqui não entra! Vai ficar a descansar na gaveta de onde nunca devia ter saído. Há bonecos que me saem completamente ao lado, como foi o caso desse primeiro Bob Dylan. Não é que este me encha totalmente as medidas, mas está melhor.
Não devemos expor as nossas fraquezas. Os nossos inimigos não devem conhecer os nossos pontos fracos. Se não sabemos desenhar uma mão é melhor escondê-la atrás das costas. Se não sabemos desenhar um cavalo mudamos o argumento e utilizamos um burro. Se não estamos convencidos com um desenho é melhor não mostrar a ninguém. Os escritores também não publicam os textos menos conseguidos e com erros ortográficos.
O texto que segue em baixo é o mesmo que acompanhou o dito boneco na dita revista que agora descansa em paz. O esboço representa uma etapa do trabalho que muitas vezes prefiro ao trabalho final.
Bob Dylan
Estou com o chamado bloqueio de escritor, apesar de não o ser. Foi um disparate ter concordado colaborar nesta revista nestes termos. Mais doloroso do que os desenhos, é escrever o texto que os acompanha. Os bonecos falam por si, uma explicação adicional só prejudica. Quem desenha, desenha, quem escreve, escreve. Cada macaco no seu galho. Esta sugestão para fazer as duas coisas foi um absurdo. É um parto cada vez mais difícil, juntar o número de caracteres suficientes, para preencher a página, com uma prosa que faça sentido.
E para que esta introdução demorada não pareça um fait-divers para esconder o facto de não ter nada a dizer sobre o Bob Dylan, não vou perder mais tempo com esta lamechice.

Robert Allen Zimmerman, ou Bob Dylan, é um daqueles casos bicudos para um caricaturista uma vez que a sua cara já é uma caricatura. Por mais que se exagere, o original é sempre mais cómico. Neste caso, complementado também com uma voz de cartoon, com um desarranjo nasal complicado. E é essa voz, juntamente com o ninho de ratos na cabeça e com a gaita pendurada que me provocam sensações de repugnância e de admiração. Gosto especialmente da fase folk inicial, quando ele era considerado, juntamente com a Joan Baez, um ícone do Movimento dos Direitos Civis. Era ele, a viola e a harmónica contra o mundo. Como se a força da música fizesse a diferença. E esta fase foi tão intensa que ele nunca mais se livrou do rótulo de músico de protesto. Rótulo que recusa. Chegou mesmo a afirmar que não acreditava em nada do que tinha escrito ou cantado. Há cada um!
Mas a sua carreira é enorme e a sua discografia vastíssima. Ainda agora lançou um disco, 44 anos depois do primeiro. Impressionante. Mesmo a cair da tripeça, o tempo não perdoa, é de louvar a sua persistência. Deve precisar de tocar por uma questão de sanidade mental senão já estaria a gozar a sua merecida reforma.
Mas os tempos são outros e hoje em dia o panorama é diferente. Os Bob Dylans da vida já não aparecem por aí. A globalização uniformizou os gostos e institucionalizou a superficialidade. O mundo continua igualmente mal, com os mesmos problemas e ameaças, mas o que está a dar são músicas light sem conteúdo político ou social. Mesmo os mais alternativos são rapidamente transformados num produto comercial. O próprio BD foi transformado num hamburger do Mac Donalds. Como já não incomoda tanto é mais tolerado. Está naquela fase de receber prémios de carreira das mãos dos visados nas suas canções, que agora o aplaudem entusiasticamente. Mas o que interessa é que existem CDs e gravações e sempre que o quisermos ouvir na sua fase mais purista basta carregar no botão. Limpam-se as teias de aranha e ouvem-se as suas músicas. Espero que o tempo lhe faça justiça e que seja cada vez mais apreciado.
Mas a resposta a esta pergunta meu amigo it’s Blowing in the wind! (que final bruuagh?!)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

+ Encomendas

Esta semana tive um percalço informático, o disco do meu computador pifou! Foi tudo ao ar! Durante dois dias, enquanto decorria o processo cirúrgico de recuperação de documentos, fiquei sem saber se algum dia voltaria a ver os meus bonecos. Não, não tinha backups de nada. Confiava tanto no meu Mac que nunca me preocupei com isso. Rezei ao Santo António para encontrar o raio do disco. O técnico informático ia-me dando notícias muito pouco animadoras, para me preparar para o pior. Como pessimista encartado já me estava a mentalizar para mudar de profissão.
Mas ao 3º dia, depois da cunha e da influência do meu Santo preferido, os ficheiros e as pastas ressuscitaram!

Vou começar a publicar aqui no blogue num ritmo mais intenso, todos os meus trabalhos, antigos e recentes, antes que voltem a desaparecer. Não, ainda não fiz backups. Voltei a confiar no meu Mac!
Estes cartoons foram feitos para o trabalho mais insólito que me apareceu na vida até hoje. Fui contactado pela Vida é Bela, empresa de eventos, para estar como cartoonista residente num seminário ou conferência ou lá o que aquilo era, da McKinsey, empresa de consultoria, no Hotel Dom Pedro em Lisboa. Isto passou-se há 3 anos.

Os vários McKinseys que estavam neste evento, iam-se dispersando por várias salas do hotel onde estavam a acontecer vários workshops. Nalgumas dessas salas estavam cartoonistas preparados para ilustrarem as conclusões brilhantes a que estes homens chegavam. Além de mim também estavam de serviço o Carlos Laranjeira (Record) e o Ricardo Galvão (Bola). Cada um deles só teve de puxar da caneta uma vez. Eu tive o azar de ter ido parar à sala em que pediram 10 cartoons.
O problema é que falavam em inglês sobre temas complicadíssimos, quase impossíveis de passar para cartoon. Ainda por cima o meu interlocutor era um alemão que tinha um sotaque de general SS, tipo personagem do "Alô, Alô". Várias vezes lhe pedi para repetir o que me tinha acabado de dizer.
Estes cartoons foram posteriormente melhorados em computador baseados nos originais feitos na hora. O meu novo amigo alemão gostou muito dos bonecos e dois anos mais tarde voltou a contactar-me para fazer uma nova encomenda para uma nova leva de cartoons. Desta vez não foram feitos ao vivo. Foi tudo tratado por mail e por telefone.
Uma vez que se tratava de uma encomenda de um alemão aproveitei para pedir um preço "à alemã". O homem nem pestanejou. O problema foi que na hora de pagar o German despareceu do mapa. Não respondia a mails nem a telefonemas. Fiquei a pensar se não teria tido o azar de ter encontrado o único alemão pouco sério do mundo. Mas não, o homem era sério e acabou por pagar com imensas desculpas pelo atraso. Tinha ficado retido e incomunicável num país africano qualquer durante uns tempos.
Os primeiros 4 cartoons são alguns exemplos dos que foram feitos para o evento de 2006. Os segundos 4 já são exemplos da segunda encomenda. Nem vale a pena tentar explicar os bonecos. Precisava de vários dias.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Encomendas

De vez em quando lá aparecem umas encomendas de caricaturas de pessoas normais, particulares, anónimas, desconhecidas do grande público, para oferecerem de presente a amigos, pais, noivos, etc.

O problema neste tipo de caricaturas é que temos ali na hora o feedback do cliente. Percebemos logo se gosta ou não do boneco. A vantagem dos Sócrates, Obamas e Sarkozys é que não fazem reparos nem pedem alterações.

Outro problema são as imagens que nos mandam. Não têm a mínima noção de que sem boas imagens é impossível fazer boas caricaturas. O segredo está nas imagens e o resto é conversa!
A situação ideal para uma caricatura é ao vivo. Mais ideal ainda é sermos nós a tirar as fotografias do visado. Ainda, mas ainda mais ideal, o cúmulo do ideal, seria termos o modelo instalado em nossa casa, fechado num armário no nosso atelier, à nossa disposição sempre que tivéssemos dúvidas sobre um nariz ou sobre uma boca.
Nestas encomendas muitas vezes pedem-nos apetrechos. Não nos limitamos à cara temos de fazer imensa tralha à volta. Já deu para perceber, com tantos problemas que tenho levantado, que estas encomendas não são o meu género favorito. Mas não as deixo de fazer, também têm graça.

Esta última foto não tem nada a ver com o tema das encomendas, tem a ver com o post anterior a este. É a fotografia de família de alguns dos participantes da exposição e da tertúlia "Liberdade é um risco". Correu muito bem.