domingo, 31 de outubro de 2010

Caretas da República - Parte 2

Os primeiros anos da imberbe república portuguesa foram de tal maneira desastrosos que tinham de acabar mal, tinham de acabar com um golpe militar que aconteceu em 1926. Parece que foi um tal de Mendes Cabeçadas que entrou à cabeçada por Portugal "adentro", restabelecendo a ordem, impondo à força o Professor de Economia Política e Finanças, António de Oliveira Salazar, como Ministro das Finanças.
Para Presidente da República desta nova modalidade de regime, escolheram por decreto um Marechal... Óscar Carmona. Manteve-se no cargo durante 25 anos e morreu em pleno exercício das suas funções no Palácio de Belém.
Tal como as personalidades da Primeira República estas também são um mimo para qualquer caricaturista, bigodes, narizes, orelhas e carecas em barda.
Em 1933 fizeram um fato à medida de Salazar. Redigiram uma nova Constituição em que todo o poder ficava concentrado no Presidente do Conselho de Ministros, ou seja, em Salazar. Era esperto o rapaz. Durante quarenta anos conseguiu manter esse estatuto. Como era um ditador light ninguém se chateou muito durante esse tempo. Tendo em conta os outros ditadores contemporâneos de Salazar que proliferavam por essa Europa fora, acho que tivémos muita sorte com o nosso seminarista.
Pelo caminho, foi eliminando quem lhe fazia frente tal como o General "sem medo" Humberto Delgado. Sem medo não era bem assim, como podem ver pelas fotografias e por esta caricatura, este general tinha medo de assumir a careca. Era daqueles que puxava o cabelo de trás para tapar à frente.
Com ou sem penteado, não se safou de uma emboscada PIDEsca liderada por Rosa Casaco. Sim, esse mesmo, que anos mais tarde andava a passear livremente que nem um passarinho por Lisboa a dar entrevistas aos jornais.
Se Salazar tivesse sabido sair a tempo, antes do país estar no buraco em que ainda hoje se encontra, aquele prémio do Melhor Português de todos os tempos faria mais sentido, não teria sido tão escandalosa a sua atribuição. O problema é que quando um político se agarra ao poder nunca mais larga o osso. Se aquela cadeira não se tivesse partido o buraco ainda teria sido maior.
Marcelo Caetano recebeu uma herança pesada e nem com uma primavera conseguiu mudar o rumo dos acontecimentos. Nem com as suas conversas em família conseguia disfarçar o indisfarçável. Os dados estavam lançados e uma nova revolução era inevitável.

Se quiserem saber mais sobre estas e outras histórias dos 100 anos da República Portuguesa... comprem o livro. Está lá tudo.

Se quiserem um autógrafo dos autores podem aparecer na livraria Wook do Dolce Vita Tejo Amadora no dia 27 às 16h, que lá estaremos.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Caretas da República - Parte 1

O livro das Caretas da República já está à venda nas livrarias há algum tempo mas só agora tive oportunidade de o lançar aqui no blog. É mais um livro da saga Caretas, mas desta vez, para variar, em vez de jogadores de futebol caricaturámos políticos. Os textos estiveram mais uma vez a cargo do Luís Miguel Pereira, que saiu da sua zona de conforto (futebol) para se aventurar num tema tão complexo como o da República. Acho que se safou muito bem. Os desenhos são meus e do Ricardo Galvão (A Bola). Desta vez o Carlos Laranjeira tirou uma licença sabática e não participou. Tive pena. Fica para a próxima.
À conta deste livro aprendi muita coisa sobre estes 100 anos da República em Portugal. Era o tipo de matéria que nunca dávamos em história, porque o ano acabava sempre antes de chegarmos ao Séc. XX. Fiquei muito mal impressionado com os republicanos. Aliás, era republicano quando comecei a fazer este livro mas acabei monárquico. Não perdoo o que os republicanos fizeram com a nossa bandeira. Era linda, branca e azul, com categoria e tranformaram-na numa bandeira da República do Congo.
Neste post só vou pôr os bonecos da primeira parte do livro
correspondentes à Primeira República. São figuras altamente caricaturáveis cheias de adereços, cabelos e bigodes. Estes elementos dão sempre jeito numa caricatura, ajudam a identificar a criatura em questão. Estes tipos deviam ficar horas a pentear as cabeleiras e a aparar os bigodes e as pêras antes de sair de casa.
Este é o Bernardino Machado, foi Presidente da República por duas vezes, teve 19 filhos e foi altamente caricaturado na sua época. Percebe-se porquê. Foi ele que teve a brilhante ideia de levar Portugal a participar na Primeira Guerra Mundial.
Uma das coisas boas desta época é que foi prolífera em caricaturas e cartoons. Toda esta época está documentada com desenhos de Silva Monteiro, Jorge Barradas, Francisco Valença, Stuart Carvalhais, Alonso, Leal da Câmara, entre outros. Grandes mestres que marcaram uma época e que ainda servem de inspiração a muita gente.
O balanço que se faz da Primeira República é catastrófico. Em 16 anos houve 45 governos e 8 presidentes. O país estava na miséria, muito parecido com o que se passa hoje em dia. O país só voltou a entrar nos eixos quando apareceu um menino chamado António de Oliveira Salazar. Mas isso fica para o próximo post.

Estas caretas podem ser vistas no Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, no Fórum Luís de Camões até ao dia 7 de Novembro. Apareçam

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Dignidade

A FECO Portugal - Associação de Cartoonistas em parceria com a Amnistia Internacional, organizam pela segunda vez uma Exposição Internacional de Cartoon, desta vez sob o tema "Dignidade". São mais de 100 autores de 37 países, com uma participação portuguesa siginficativa.
Também participei e contribuí com este cartoon. Demorei algum tempo a chegar a uma ideia. Ao contrário do que pensava, o tema digindade não é fácil. Mas aqui está ele.

Este é o cartaz do evento, com toda a informação importante. Esta exposição tal como a do ano passado vai ser itinerante e segue, depois de Lisboa, para a Lousã. A inauguração é já esta quinta-feira e estão todos convidados a aparecer. O grupo musical Anunamanta faz as honras de abertura. Não pode perder. É perto. É em Campolide!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Marcelo Rebelo de Sousa

O professor Marcelo… ou professor Martelo, como quiserem , é o que se chama, na gíria, uma picareta falante.

O martelo é uma picareta!

É uma picareta, mas é agradável aos ouvidos, pelo menos aos meus. Se calhar não é uma picareta agradável aos ouvidos do Sócrates, do Cavaco ou do Santana Lopes, mas aos meus é. Não me canso de o ouvir e já o ouço há muitos anos. Era capaz de o ouvir durante 5 horas seguidas sem me fartar. Gosto muito do som que sai de dentro da picareta do professor Martelo.

Proliferam os comentadores televisivos. Há mais comentadores que telespectadores. Então comentadores desportivos nem se fala. Há mais comentadores do que acontecimentos a comentar. Somos o país dos comentadores.
Desta parafernália de comentadores escolhi o Professor Marcelo como comentador de estimação. Nem que Jesus Cristo venha à terra eu mudo de comentador de estimação. É ele, ponto final. Está instituído, ouvir o professor ao domingo.
Ao contrário do professor Marcelo que, como já disse, é muito bem vindo a esta casa (televisivamente e pessoalmente se quiser), há outras caras que basta aparecerem na televisão (Sócrates, Cavaco, Louçã, Carlos Queiroz e, mais recentemente, André Villas-Boas…) e zás!, zapping directo para o canal Panda. Os meus filhos agradecem!

Umas das qualidades que invejo no Professor Marcelo é a sua capacidade para organizar e rotular tudo o que se passa neste país de doidos. Consegue dar sentido ao caos, consegue engavetar e arrumar assuntos como ninguém.

Por falar em engavetar, a caricatura que motivou este post foi directamente para a gaveta. Era para ter entrado num livro chamado Caretas da Democracia, que posteriormente foi transformado em Caretas da República e o professor foi dos que saltou fora. Valham-nos os blogs para evitar a gaveta do esquecimento.

Parece que só dorme 3 horas por noite à conta de tanta capacidade intelectual. Mais vale ser burro e dormir a noite inteira.