segunda-feira, 15 de março de 2010

Telemóvel

Ainda me lembro como se fosse hoje, do furor que foi quando um amigo meu anunciou que o seu pai tinha um telefone no carro. Ficámos todos muito impressionados. Ainda mais impressionados ficámos quando apareceram os primeiros “tijolos” com antenas, que pareciam uns walkie talkies da segunda guerra. Esse mesmo pai também foi um dos primeiros a ter um desses telemóveis pré-históricos. Hoje em dia, à conta de ter estado sempre na vanguarda tecnológica, esse pai, está com o cérebro frito, tipo vegetal, a beber chá por uma palhinha.

Os telemóveis têm muitas qualidades, mas vou debruçar-me essencialmente sobre o lado negro desses aparelhos ambulantes.
Em primeiro lugar, fazem mal à saúde. Alguém fez um teste (provavelmente uma universidade americana) colocando um ovo cru entre dois telemóveis e passado uns tempos o ovo cozeu. Imagino que essas ondas hertzianas que cozem ovos também cozam miolos. Suspeito que muitos dos meus esquecimentos sejam da responsabilidade do telemóvel. Ainda no outro dia, quando me esqueci de comprar o leite que a minha mulher me pediu, tive de explicar  “Ó querida, entretanto fiz umas chamadas e o telemóvel queimou essa informação!”

Além da saúde física, os telemóveis também fazem mal à saúde financeira. É cada chimbalau no fim do mês!!! Sem saber como, fiquei refém do raio do objecto, faço chamadas compulsivamente como se não houvesse amanhã. Quando chega a factura, acordo para a vida e durante uns dias sigo à risca uma dieta de chamadas. Mas a meio do mês, lá estou de volta a disparar chamadas e sms em todas as direcções.

O telemóvel trouxe ao de cima alguns problemas de etiqueta sem precedentes. Pessoas que eu tinha em boa conta revelaram a sua verdadeira natureza quando se viram com um destes aparelhos portáteis nas mãos. Deviam fazer um upgrade à sua educação em função desta nova realidade, aprender a desligar o telemóvel no cinema, a não fazer chamadas durante um almoço de amigos, etc.
Antigamente havia o tontinho da rua que gritava e gesticulava contra um interlocutor imaginário. Com o advento do telemóvel, esses tontinhos multiplicaram-se. Hoje em dia há um em cada esquina, a fazer as mesmas figuras, mas com um berloque na orelha.
O aparelho portátil com autonomia energética, que funciona em radiofrequência e permite efectuar ligações telefónicas (vulgo telemóvel) revolucionou muitos aspectos da nossa vida. Já não precisamos de estar cara a cara com a pessoa, tudo pode ser dito através do telelé. Isto aplica-se também à arte do namorico. Já não é preciso ter a pessoa amada, em carne e osso, à nossa frente, já não se usa o ramo de flores ou a serenata, basta um sms no timing certo e a conquista está feita!

Outro momento que o telemóvel assassinou foram as viagens no autocarro ou no metro em silêncio. Antigamente ia tudo calado, e podiamos observar as pessoas e imaginar as suas vidas. Hoje em dia há pouco espaço para a imaginação uma vez que as pessoas fazem questão de, alto e bom som, porem todos os passageiros a par dos seus dramas.

Tal como os carros, um bom telemóvel pode ser suficiente para dar estatuto a um indivíduo. Pode ser um zé-ninguém, mas se tiver um bom telemóvel é logo visto com outros olhos. Como exemplo, transcrevo aqui uma conversa que tive com um amigo meu:
— Sabes o A.F. tem o novo Nokia N900, é espetacular!
— O A.F.? Aquele que é um idiota?
— Sim, mas este Nokia tem GPS incorporado, 3G, USB, MP3...
— Sim mas não faz dele menos idiota, pois não?!?!?
— Mas tem um video 848x480 e um browser WAP 2.0/HTML!!!
— Sabes onde é que tu e o A.F. podem enfiar o dito Nokia 900!?!?