Ai, ai, que falta faz a educação neste país. Já nem falo da educação escolar, falo principalmente da educação cívica. Não sei se é um sintoma de envelhecimento, mas cada vez utilizo mais, no dia a dia, uma expressão que era típica da minha avó: “Cambada de selvagens!” Aliás a minha avó limitava-se ao “selvagens!” eu é que acrescentei o “cambada”.
Outro sintoma de que o processo de envelhecimento está a decorrer na minha pessoa é o facto de achar que a juventude está perdida. Proclamo indignado, em alto e bom som que no meu tempo as coisas não eram assim, esquecendo-me completamente de que pertenci e pertenço à célebre “Geração Rasca”.
Ficou tudo muito escandalizado com a peixeirada na Escola Carolina Michaelis, com a cena da menina a pedir gentilmente o telemóvel de volta à professora. Eu também achei, numa primeira reacção, que tínhamos batido no fundo. Mas depois pensei calmamente sobre assunto, e pondo de parte este meu novo estatuto de homem sério, cheguei à conclusão que as coisas no “meu tempo” não eram muito melhores.
Assim de repente lembro-me de algumas histórias do tempo em que andei no liceu:
de uma explosão brutal que destruíu a casa de banho, meteu polícia e tudo; de um incêndio no ginásio provocado por dois alunos que não queriam ter ginástica sábado de manhã, mais uma vez meteu polícia; de um aluno chamado Piriquito, da minha aula, a pegar fogo ao cabelo de outra aluna chamada Leocádia; de uma bomba de carnaval a explodir enquanto se cantava os parabéns a um professor; de batalhas campais; de bombardeamentos aos professores com papéis molhados; das guerras de ovos, das fisgas, dos elásticos com grampos, etc, etc, etc.
Vendo bem, as coisas não estão piores. Se calhar até estão melhores. A diferença é que na altura não havia telemóveis para filmar os acontecimentos.
Fiz este cartoon para o Bronkit que vai sair em Março sob o tema “Educação”.
quarta-feira, 4 de março de 2009
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10 comentários:
O cartoon está demais! Muito bom!
No meu tempo também houve quem pegasse fogo ao cabelo da coleguita da frente, quem fizesse xixi no caixote do lixo, e pastilhas elásticas coladas na cadeira dos professores.
Mas ao menos não havia provas.
E não havia avaliação dos professores.
Ahahhah....brutal!!!
Continuação de bom trabalho
Abraço
Que belo desenho!Para mim, o episódio Carolina Michaelis (quem foi, por Deus, Carolina Michaelis?!?!) foi um novo adjectivo para o nosso léxico que não tenho usado tanto como gostaria: "peixona", quando o gajo que filmava pediu a uma colega assim para o forte para sair da frente do motivo principal do filme
"Peixona". Gosto.
Centrando o comentário, belo desenho!
Lol! muito bom!!
No meu tempo fazia-se tiro ao alvo aos professores com as ameixas podres de uma ameixoeira que crescia do lado de fora da sala de filosofia...Entre outras coisas menos dignas ainda que prefiro não recordar...
Adorei o teu cartoon com a miúda (gaja) a pedir o tm "gentilmente" á prof!
Mas não concordo nada que a juventude de hoje seja igual à do nosso tempo! Aliás, nem a juventude nem os adultos! Tudo é permitido, tudo é normal para os filhos e para os pais desde que
não " chateiem"! , as palavras de ordem das crianças são o "EU QUERO" e o "NÃO!"
Recordações, lembro-me das bombas no liceu , dos ovos e tomates no Carnaval mas não me lembro de haver porrada com os professores, palavrões e más criações! Havia as loucuras "normais" entre alunos ....e professores não me lembro mais do que um "Vocês são piores que o DEUS ME LIVRE" que no fundo era uma afirmação de "amor"!ahahahaha!
AQUI É QUE ERA !!!! À grande MARIA AMÁLIA!
Bom, a nossa juvetude foi muito melhor do que a actual garanto-te! E estou sempre a dize-lo aos meus filhos!
Beijocas
JL
Belíssima ilustração... excelente post! De facto nós, geração rasca, faziamos 30 por 1 linha mas conseguiamos fazê-lo sem ofender directamente os setores.Tudo porque ao chegar a casa éramos confrontados com as nossas asneiras e havia alguma autoridade que nos fazia abrir os olhos.À partida, os pais estavam do lado dos setores, hoje são os pais os primeiros a ir pedir satisfações aos profes porque os seus meninos chegaram a casa queixando-se... Por vezes até têm razão, mas esta nossa geração é mais rasca na paternidade do que foi alguma vez na juventude e quer, à viva força, adaptar o mundo aos seus filhos em vez de adaptar os filhos ao mundo!
Quem deve ter o monopólio do NÃO são os pais, não os meninos... Como prof, acho também que a minha colega do Carolina não teve uma abordagem mto inteligente... Nós também temos de adaptar o nosso discurso aos destinatários, confronto directo com quem tem a veleidade de achar que tem todos os direitos, não dá... Há que saber levá-los! Já agora,máscara de neve, Carolina Michaelis de Vasconcellos foi uma brilhante filóloga da língua portuguesa, foi escritora,investigadora e foi a 1ª mulher a leccionar numa universidade portuguesa. E também gostei do «peixona», aprendo cenas dessas todos os dias e gosto bué de as ouvir...
Berthold Brecht (será que a geração rasca sabe quem foi?) escreveu: "Do rio que tudo arrasta se diz que é violento mas ninguém diz violentas as margens que o contêm". Será que a culpa é dos putos?
O cartoon está óptimo, Pedro no seu melhor.
Anyway, dou graças a Deus que não tenhas sido meu aluno!
Bom cartoon.
A todos os comentaristas, aos habitués e aos novos que por aqui passaram o meu bem haja à vossa "educação".
Pelos vistos o homofóbico não arranjou pretexto com este tema para lançar a sua habitual bomba.
Não te acanhes
Adorei retrata perfeitamente a falta de educação na escola...rsrsrsrs...
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