terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Vieira da Silva


Resolvi adoptar, um sistema de quotas, no que a caricaturas diz respeito. De vez em quando convém variar e caricaturar uma mulher. Os homens são mais façanhudos, mais patéticos, mais ridículos e consequentemente mais caricaturáveis. Desta vez, para desenjoar, escolhi um exemplar excepcional do sexo oposto: Maria Helena Vieira da Silva.

Que senhora! Que categoria, que carisma, que trato, que simpatia que saudades desta época (que não vivi). Só privei com alguns exemplares (avôs, avós, etc.) do mesmo estilo, mas em fim de carreira. Uma geração que usava a palavra “formidável”.

Adorava ter conhecido pessoalmente a Maria Helena, de ter passado um serão com ela, e já agora com o seu simpático marido Arpad Szenes a comer scones e a beber chá, ou a comer ostras e a beber absinto, tanto faz, o que me interessava mesmo era conhecer a pessoa por detrás da obra.

Não me canso de olhar para os seus quadros. Há muito para ver e descobrir, muitos labirintos para nos perdermos, muitas matrizes e estruturas e emaranhados de rectas e rectângulos aparentemente sem saída que nos angustiam e comovem. Só tenho uma palavra para descrever a sua obra: Formidável!

Vieira da Silva afirmou em tempos, preferir a música à pintura e só não seguiu música por falta de talento. Os amantes de pintura agradecem. Mas através do pincel preencheu essa lacuna pois a sua obra está cheia de ritmo e musicalidade.

Teve a sorte de ter feito carreira lá fora, se por cá tivesse ficado teria sido mais um talento morto à nascença. Mesmo já internacionalmente conceituada, o seu país de origem não quis nada com ela. A certa altura da sua vida perdeu a nacionalidade, ficou apátrida. E esse rótulo assenta-lhe que nem uma luva, a si e à sua obra que são absolutamente universais.

Mais do que um Picasso ou do que um Matisse, queria ter uma Vieira da Silva a decorar a parede da minha sala. As cores do quadro “O Desastre”, ficavam a matar com os tons do meu sofá.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Casamento dos Homo Sapiens

Este título deve-se ao facto do homem, desde o tempo dos Homo Sapiens ou mesmo antes (Homo Erectus) ser Homo… Sexual. Ah, pois é! Esta questão não é de agora. Se o nosso amigo Sócrates está convencido que é um sinal de modernidade adjudicar o casamento dos homosexuais está muito enganado. Esta matéria existe desde a pré-história e teve o seu auge na época do seu homónimo da Antiguidade Clássica onde a homosexualidade era mato. O nosso Primeiro-Ministro é um retrógrado!

Este tema é complexo, não é fácil tomar uma posição. Quem diz que é a favor do casamento dos homosexuais “É um deles!” quem diz que é contra “É homofóbico!”. Sinto-me mais à vontade para falar do caso Sá Pinto ou das escutas do Pinto da Costa.

Mas para quê casar?! Em vez de aproveitarem as vantagens da sua especialidade para quê ter as mesmas chatices dos heterosexuais?! O desenlace do casamento é sempre o mesmo: o divórcio. Papeladas, pensões, tribunais, só estopadas, não se metam nisso!

Depois não se queixem quando levarem com o rolo da massa por chegarem atrasados a casa ou quando forem interrompidos a meio de um jogo de poker para irem mais cedo para casa fazer rolos de carne para o almoço do dia seguinte. Já para não falar dos jantares de família, das datas especiais, da desculpa das dores de cabeça, do candeeiro aceso da mesinha de cabeceira do lado, dos sogros a meterem o nariz e por aí fora.

Será que a maioria dos homosexuais quer mesmo casar? Esta história faz-me lembrar aquela história da velhinha que não queria atravessar a rua mas mesmo assim foi carregada ao colo por um batalhão de bons samaritanos.
Parece-me que há também um batalhão de bons samaritanos nesta contenda a assumir as dores dos homosexuais e que querem casá-los à força como se fossem uns coitadinhos desprotegidos e discriminados.

Toda a gente é discriminada. Hoje em dia um católico monogâmico de camisa xadrez e sapatos de vela é muito mais discriminado do que um homosexual. A discriminação está em todo o lado.

O referendo seria uma perda de tempo, ia bater todos os recordes de abstenção. Este é um assunto que não interessa à maioria das pessoas que estão mais preocupadas com o desemprego, com os empréstimos, com a hipoteca da casa, com os impostos e com a crise.

*os bonecos em cima são dois homens, mesmo o da esquerda.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Brasil meu irmão

O Brasil é muito “bacana”. O Rio de Janeiro, à parte as balas perdidas, é muito agradável. Chega a bater, em termos de beleza natural, Santa Comba Dão. Deus estava inspirado quando passou por esta parte do mundo e nem os prédios nem as favelas conseguiram dar cabo da paisagem. Bendita a hora em que o Pedro Álvares Cabral descobriu o caminho para este paraíso, ficámos para sempre ligados a esta terra.

Não percebo porque é que a Maitê Proença e companhia desprezam os seus progenitores. Deviam ler melhor os livros de história. Os brasileiros até tiveram sorte em terem os portugueses como colonizadores, se tivessem sido os espanhóis não teria sobrado um índio para contar a história. Ok, ultimamente, dos portugueses só usufruem do pãozinho quente pela manhã, mas nem sempre foi assim.
No passado, por exemplo, durante muito tempo, receberam aulas de etiqueta e boas maneiras da Senhora Dona Carlota Joaquina*.

Deixámos muito património no Brasil, a começar pela língua. Hoje em dia há algumas diferenças, mas a base é a mesma. Por exemplo, se me virasse para um brasileiro e lhe dissesse “Olá rapaz, colocar um autocolante no autoclismo cheio de rebuçados é extremamente piroso” ia ficar a olhar para mim a achar que eu era russo. Para me perceber (entender) teria de dizer “Oi moço, botar um adesivo na descarga cheia de balas é bem cafona”.

Para além de todas as maravilhas que há no Brasil para inglês ver também há maravilhas para albanês ver. São bem menos recomendáveis mas também têm o seu encanto. Estou a falar das favelas e da sua famigerada violência.

O Homem é um selvagem! Não vale a pena virem defender a espécie “Ai coitadinho, é tão sensivel, comove-se tanto…” O “tanas”! O Homem é uma besta!
A história da humanidade é feita de guerra, sangue e morte e não dá sinais de abrandamento. A primeira coisa que o homem aprendeu foi a bater com um pau na cabeça de outro homem, depois evoluiu para a espada... pistola, mais recentemente para a bomba atómica e por aí adiante.

“Ai as crianças coitadinhas são tão inocentes…” O “tanas”! As crianças são umas bestas! Nascem logo de garras afiadas prontas a limpar o sebo ao colega do berço do lado. O Homem em qualquer fase da vida é um predador, uma máquina de destruição maciça, uma besta!

Voltando às favelas, aqui a violência encontra-se no estado mais puro e pré-histórico de selvajaria. A esperança de vida numa favela é de 25 anos. No filme Tropa de Elite percebe-se bem esta cultura da violência, dos bailes funks e dos microondas.**

Apesar da violência, não me importava lá viver. É o nosso país irmão, somos da mesma família, para mim o Liedson, o Polga e o Pedro Silva são meus primos. A nossa selecção devia ter 11 brasileiros, só tinhamos a ganhar com isso! Viva o Brasil, o Carnaval, a caipirinha, Grumari, Parati, Ubatuba, Tabatinga e os índios Guarani.

Aproveito este primeiro post de 2010 para desejar bom ano a todos. Fiz umas alterações de início de ano na decoração aqui do estaminé, retirei o símbolo gripe H1N1 (uma verdadeira desilusão, este vírus) e substituí-o por um gambuzino.

Este blog vai continuar o seu caminho, num ritmo mais lento do que no ano passado, porque o tempo, infelizmente, escasseia.

*Era espanhola mas não interessa para o caso. Foi Rainha de Portugal.

**É a maneira como os traficantes “assam” as personas non gratas. Empilham uns pneus, põem lá dentro a vítima e pegam fogo.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Feliz Natal

Para fechar a época só me faltava um cartoon sobre o Natal. Estive durante alguns dias a pensar no assunto e não me lembrei de nada que não incluísse um Pai Natal. Infelizmente este impostor está no subconsciente das pessoas e anda a desviar as atenções do menino Jesus, o verdadeiro aniversariante. O Pai Natal não me convence, nem a cor da sua indumentária nem a sua situação laboral. Há qualquer coisa de errado nesta personagem. Oh, Oh,Oh o quê? Oh, Oh, Oh, o caraças! não há motivo nenhum para rir.

Estava eu nesta angústia de ter de arranjar uma ideia para um cartoon natalício (sem o Pai Natal) quando alguém se saiu com esta "Porque é que não fazes os Três Reis Magos a olharem para o céu à procura da estrela, mas sem a conseguirem encontrar por causa da poluição?" Dito e feito.
Normalmente não revelo as minhas fontes, finjo sempre que a ideia é minha mesmo que a tenha plagiado, mas neste caso não resisto em contar, pois o meu orgulho paternal está a estourar: foi o meu filhote, snif, snif... que orgulho.

Isto tudo para desejar um Santo Natal a todos, sem excepção e Bom Ano Novo para todos, neste caso com algumas excepções.

Este Blog só retomará a sua actividade a partir de Janeiro.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Benfica 2

O Benfica, tal como o nome indica, é um clube de bairro. Na designação Sport Lisboa e Benfica está bem patente que se trata de um clube da capital mas de um bairro específico, nem sequer do centro.
O Sporting, ao contrário do Benfica, é de Portugal, é um cidadão do mundo, com um nome universal, perceptível nos mais recônditos recantos do planeta. É um nome elegante, ilustre, de boa têmpera que enaltece a nobreza dos seus simpatizantes. Um nome que deve ser declamado com o mais fino british accent, como tão solenemente o Sousa Cintra e o Paulo Bento o pronunciavam.
Eu tenho uma dívida para com o Benfica. Foi no estádio da Luz, inserido na Juventude Leonina, que ganhei estofo para a vida. Quem sobrevive àquele inferno sobrevive a tudo. Estava habituado ao Estádio de Alvalade e tinha a ideia errada de que as pessoas eram todas civilizadas. Aprendi muita coisa com o Benfica, a esquivar-me de uma pedra, a camuflar-me, a fingir-me de morto ou a correr os 100 metros em 11 segundos (a fugir aos Diabos Vermelhos).
Sendo da geração pós 25 de Abril, as partidas para os derbys na Luz foram o mais próximo que tive das partidas para o Ultramar. Despedia-me da família e dos meus amigos como quem parte para uma guerra, sem saber se voltava. Foi na Luz que estive mais próximo de ver "A Luz", literalmente. Foram várias as vezes que ia levando com um very light na cabeça!
Uma vez fui apanhado por um grupo de Orks lampiões que me encostou à parede num desses fatídicos derbys. Um deles, espumando da boca, vociferou "Este gajo é lagarto!" instintivamente contestei "Não, não sou". De dedo em riste voltou à carga "És sim!". Voltei a esclarecer "Não, palavra de honra que não sou!" Insistiu mais uma vez "Tens cara de menino, deves ser lagarto!" "Não sou, a sério, nem ligo ao futebol, só gosto de badminton!".
Lá consegui escapar milagrosamente àquela situação.
Só mais tarde, quando um galo cacarejou 3 vezes é que percebi que tinha traído o clube do meu coração. Nunca mais me perdoei, mas ao menos estou vivo para escrever e denunciar a violência no futebol.
Num desses derbys lembro-me de ter levado com chuva na cabeça, mas curiosamente o céu estava limpo. Só quando olhei com atenção para o segundo anel é que percebi que realmente se tratava de água, mas já processada pelo sistema urinário. Depois dizem que o estádio de Alvalade é que parece uma casa de banho pública gigante!!!

O Sporting e o Benfica estão nos antípodas um do outro, são a noite e o dia, são o azeite e a água, são a Suécia e o Senegal. A partir do momento em que se escolhe um destes clubes, a metamorfose começa, o destino está traçado. Uns começam a comer de garfo e faca, a estudar e a falar línguas enquanto os outros começam a passear de fato de treino ao domingo e a quitar a viatura com penduricalhos, berloques e ailerons.
É fácil detectar cada uma das espécies. Por exemplo, se vir um homem de lenço ao pescoço, a tamborilar Wolfgang Amadeus Mozart enquanto recicla papel, qualquer pessoa percebe facilmente que não tem nada a ver com um tipo de palito na boca a puxar bem atrás uma langonha enquanto coça a micose com uma mão e esbofeteia a mulher com a outra.

Estes bonecos também são do livro Caretas do Benfica, o campeão de vendas da colecção caretas. Já são de 2006 mas ainda olho para eles com benevolência, apesar de serem do Benfica.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Benfica 1

Uma vez que o tema Sporting está interdito neste blog (em boa hora), vou falar do nosso arqui-inimigo Benfica. Ao contrário de muitos sportinguistas, que são mais anti-benfiquistas do que propriamente sportinguistas, eu não tenho nada contra o Benfica. Aliás, acho o Benfica engraçadíssimo, "cutchi, cutchi, que engraçadinho que tu és, ò Benfica!"

Ainda bem que o Benfica existe! O Peter Pan tem o seu Capitão Gancho, o Harry Potter tem o Voldemort, o Luke Skywalker o Darth Vader, o Dias Ferreira o Sílvio Cervan… e o Sporting tem o seu Benfica! O bem e o mal coexistem desde o princípio dos tempos e hão-de continuar Ad aeternum.

Não há dúvida que os benfiquistas são mais, há que reconhecer! Há mais adeptos do Benfica, há mais jornalistas do Benfica, há mais políticos, funcionários públicos, taxistas, contrabandistas e serial killers do Benfica e definitivamente há mais comentadores desportivos, árbitros, fiscais de linha e delegados de jogo do Benfica. Até aquele 4º árbitro que levanta a placa com os descontos também é, na maior parte das vezes, do Benfica.

O presidente do Estoril que teve a gentileza de abdicar do seu estádio e oferecer o estádio do Algarve e um campeonato ao Benfica… também é do Benfica.
A gripe A, as enxaquecas, a tuberculose, as hemorróidas, as unhas encravadas, os terramotos e os tsunamis são todos do Benfica. O próprio Jesus é do Benfica… por acaso não, peço desculpa, treina o Benfica mas é do Sporting!

É verdade, Jorge Jesus é sportinguista e dos bons, dos fanáticos! Basta assistirmos a uma conferência de imprensa para percebermos que estamos perante um gentleman. A maneira como trata a língua de Camões e a sua voz cristalina denunciam as suas origens aristocráticas.

Este ano as coisas estão a correr bem ali para os lados do Colombo! Sim senhor, todos contentes, de barriga cheia, é aos 6 e aos 7, quem me dera! O Sporting este ano nem contra uma equipa de cegos paralíticos com dois expulsos consegue marcar 5 golos.

Se não forem campeões este ano nem quero pensar nas consequências. Eu temo pela minha saúde. Lembram-se daquele sketch dos Monty Python’s, da anedota mortífera, que quem a lesse morria de tanto rir?! Tenho medo que me aconteça o mesmo.

Mas estejam descansados que este ano é de certeza. Até decorei aqui o estaminé com as cores do Benfica, que por acaso também são as cores do diabo. A minha confiança é tanta que estou a planear férias, fora de Portugal, mais ou menos por altura dos festejos. Se fosse milionário aproveitava para fazer turismo espacial!


Estes bonecos são alguns dos que fiz para o livro Caretas do Benfica, o primeiro da trilogia dos grandes. Claro que tínhamos de começar pelo Benfica, não fossem 6 milhões os potenciais compradores.

E confirmou-se, o livro do Benfica foi de longe o que vendeu mais.
Mas estranhei: “Sim senhor, os benfiquistas são mais, sem dúvida... mas a maioria é analfabeta” Só depois é que me lembrei “Ah, está bem, é um livro de bonecos!”

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Amadora

Qual Paris, Londres ou Nova Iorque! A cidade que está "a dar" é a Amadora! Não pelas suas paisagens, ou arquitectura, ou Castelos Altaneiros, mas sim pelo festival de Banda Desenhada.

Lisboa é Lisboa, é a minha cidade! Viu-me nascer e espero que me veja morrer. Pelo menos o jazigo da família encontra-se aqui. Nem sei se tenho lugar, tenho de confirmar. Mas aos poucos a Amadora tem subido lugares no ranking das minhas preferências. Tiro o chapéu aos amadorenses, principalmente aos que estão ligados ao festival, que são praticamente todos os habitantes da cidade.

Fui sempre muito bem tratado nestas paragens e foi depois de ter recebido um prémio no Amadora Cartoon que me dediquei mais aos bonecos. Concorri mais vezes até ter esgotado a idade. Depois dos 30 acabou-se a brincadeira, já não se pode concorrer. Estes dois desenhos que fui buscar ao baú participaram num desses concursos. O tema desse ano eram os Super-Heróis e aproveitei o embalo da polémica da altura, do deputado Batman que fazia viagens fantasma. Mais tarde veio a saber-se que as viagens fantasma eram comuns e que havia muitos Batman entre os senhores deputados.
Hoje em dia seria impensável, os deputados são pessoas sérias.

Lanço aqui estes dois cartoons, feitos a ecoline (ainda não tinha computador) só para não pensarem que este blog fechou de vez com as comemorações do primeiro ano de existência.

Esta greve dos Super-Heróis não teve saída nenhuma. Na altura achei piada e continuo a achar. Devo ser o único...

Depois de tantos anos no papel de concorrente, este ano tive o privilégio de fazer parte do júri. Nunca percebi muito bem as escolhas do juri e continuei sem perceber.