
Mais um boneco que foi publicado na já extinta
MAGAZINE - Grande Informação. Não foi exactamente este Bob Dylan que é uma versão melhorada do original que saiu na altura. O outro não passou na inspecção deste blog. Censurei-o. Foi dado como inapto. Aqui não entra! Vai ficar a descansar na gaveta de onde nunca devia ter saído. Há bonecos que me saem completamente ao lado, como foi o caso desse primeiro Bob Dylan. Não é que este me encha totalmente as medidas, mas está melhor.
Não devemos expor as nossas fraquezas. Os nossos inimigos não devem conhecer os nossos pontos fracos. Se não sabemos desenhar uma mão é melhor escondê-la atrás das costas. Se não sabemos desenhar um cavalo mudamos o argumento e utilizamos um burro. Se não estamos convencidos com um desenho é melhor não mostrar a ninguém. Os escritores também não publicam os textos menos conseguidos e com erros ortográficos.
O texto que segue em baixo é o mesmo que acompanhou o dito boneco na dita revista que agora descansa em paz. O esboço representa uma etapa do trabalho que muitas vezes prefiro ao trabalho final.
Bob Dylan
Estou com o chamado bloqueio de escritor, apesar de não o ser. Foi um disparate ter concordado colaborar nesta revista nestes termos. Mais doloroso do que os desenhos, é escrever o texto que os acompanha. Os bonecos falam por si, uma explicação adicional só prejudica. Quem desenha, desenha, quem escreve, escreve. Cada macaco no seu galho. Esta sugestão para fazer as duas coisas foi um absurdo. É um parto cada vez mais difícil, juntar o número de caracteres suficientes, para preencher a página, com uma prosa que faça sentido.
E para que esta introdução demorada não pareça um
fait-divers para esconder o facto de não ter nada a dizer sobre o Bob Dylan, não vou perder mais tempo com esta lamechice.
Robert Allen Zimmerman, ou Bob Dylan, é um daqueles casos bicudos para um caricaturista uma vez que a sua cara já é uma caricatura. Por mais que se exagere, o original é sempre mais cómico. Neste caso, complementado também com uma voz de cartoon, com um desarranjo nasal complicado. E é essa voz, juntamente com o ninho de ratos na cabeça e com a gaita pendurada que me provocam sensações de repugnância e de admiração. Gosto especialmente da fase folk inicial, quando ele era considerado, juntamente com a Joan Baez, um ícone do Movimento dos Direitos Civis. Era ele, a viola e a harmónica contra o mundo. Como se a força da música fizesse a diferença. E esta fase foi tão intensa que ele nunca mais se livrou do rótulo de músico de protesto. Rótulo que recusa. Chegou mesmo a afirmar que não acreditava em nada do que tinha escrito ou cantado. Há cada um!
Mas a sua carreira é enorme e a sua discografia vastíssima. Ainda agora lançou um disco, 44 anos depois do primeiro. Impressionante. Mesmo a cair da tripeça, o tempo não perdoa, é de louvar a sua persistência. Deve precisar de tocar por uma questão de sanidade mental senão já estaria a gozar a sua merecida reforma.
Mas os tempos são outros e hoje em dia o panorama é diferente. Os Bob Dylans da vida já não aparecem por aí. A globalização uniformizou os gostos e institucionalizou a superficialidade. O mundo continua igualmente mal, com os mesmos problemas e ameaças, mas o que está a dar são músicas
light sem conteúdo político ou social. Mesmo os mais alternativos são rapidamente transformados num produto comercial. O próprio BD foi transformado num hamburger do
Mac Donalds. Como já não incomoda tanto é mais tolerado. Está naquela fase de receber prémios de carreira das mãos dos visados nas suas canções, que agora o aplaudem entusiasticamente. Mas o que interessa é que existem CDs e gravações e sempre que o quisermos ouvir na sua fase mais purista basta carregar no botão. Limpam-se as teias de aranha e ouvem-se as suas músicas. Espero que o tempo lhe faça justiça e que seja cada vez mais apreciado.
Mas a resposta a esta pergunta meu amigo
it’s Blowing in the wind! (que final bruuagh?!)